quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Opinião: em que túnel estão vocês? in MaisFutebol

Não vou pelas piadas fáceis. Não vou imaginá-lo com calção de boxeur à Jake LaMotta, de penso onde o nariz começa a ser nariz e a mastigar o protector dentário. A preto-e-branco, com o sobrolho inchado e cortado, mãos paralelas ao corpo a correr em fúria contra o adversário, expondo-se a ganchos e uppercuts. Não vou fazer piadas fáceis com Sá Pinto. Não vou colocá-lo à força num filme de Scorcese ou de Aronofsky, como duplo de Mickey Rourke. Não vou imaginar o jogo saltitante de pés de Liedson, o jab nervoso para afastar a raiva, o encostar às cordas, o aguentar até tocar a sineta. Não vou imaginar como tudo começou: mão direita do árbitro apontado no centro do ringue, depois do bla-bla-bla a pedir um jogo limpo, e os antebraços ao lado da cabeça, à direita e à esquerda. A sineta; ao centro; começou. Para mim chega.
Não vou lembrar túneis de estádios como formigueiros desordenados, formigas à luta por uma migalha de pão. Um gesto provocará a guerra total, uma palavra incendiará a turba, e o momento vira futebol dos antigos, como aquele brutal, com uma baliza da largura do campo, uma bola para levar até lá e placagens, murros, dentadas e pontapés a sangrá-la até ao destino. Não vou falar nas escutas que não ouvi, nos incentivos a que não assisti, nas bocas a fazerem-se passar por filosofias, nas palavras de gumes afiados atiradas para ir abatendo aos poucos o inimigo. Fragilizando-o aos poucos, até já não conseguir reagir. A batalha tem data marcada, sítio e hora, espingardas contadas, e a bola é um mero acessório. Mas eu não vos disse nada. Não acredito que mais alguém veja.
É óbvio que está doente, é óbvio que já não passa com psicanálise. As instituições estão a definhar, os clubes, dirigentes, jogadores e agentes também. Não descobri a pólvora, claro que não. Em Inglaterra, há lambe-botas e argentinos mal-agradecidos, no México disparam a sangue-frio à cabeça, em Espanha Ronaldo soma golos e expulsões, e o Inter de Mourinho acaba o derby de Milão a desconfiar do mundo inteiro. Não chega a psicanálise, sentem-nos lado a lado numa sala branca e LCD nas paredes. Nas fichas médicas de cada um, em vez de Lorezapam para combater a ansiedade, prescrevam golos. Um após o outro.
Comecem com meia-hora concentrada de Pelé e Garrincha, e depois Ronaldo, Rivaldo, Ronaldinho, Gerson, Carlos Alberto, Tostão, Roberto Carlos e Rivelino. Ao segundo dia, Maradona, Ardiles, Messi, Aguero e Batistuta. Zidane, Platini, Trezeguet, Giresse, Anelka e Ribéry ao terceiro. Chalana, Eusébio, Oliveira, Figo, Rui Costa e Cristiano Ronaldo no quarto. No quinto, uma mistura de estilos: Zola, Van Basten, Gascoigne, Roberto Baggio, Madjer, Balakov, Littbarksi e Bergkamp, muito Bergkamp. Xavi, Iniesta, Fabregas, Torres, Michel e El Butre para continuar. Um especial Chris Waddle. E Cruijff, Gullit e Rijkaard... Se não resultar, fechem-nos dentro da sala e deitem fora a chave. Atirem-na ao mar, derretam-na numa fornalha. Who cares?
A propósito, alguém viu os quatro golos de Rooney ao Hull? O livre de Pandev ao Milan? O penalty defendido por Júlio César? Os dois golos de Ronaldo? Sim, viram a cotovelada, mas e os golos? A última vitória do Barça, que deu recorde? Alguém? Não? Em que túnel estavam vocês?

Por Luis Mateus in MaisFutebol

Achei este artigo excelente e não quis perder a opurtunidade de partilhar com os nossos leitores.

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